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O que atrai os jovens aos movimentos extremistas?

  • Eduardo Nunes da Silva
  • 28 de jun. de 2016
  • 4 min de leitura

Em abril de 2013 houve na cidade de Boston, nos Estados Unidos, um atendado, durante uma prova de maratona, praticado por dois irmãos de origem chechena. Na mesma época também esteve nas páginas dos jornais o julgamento da neonazista acusada de assassinar dez pessoas. Além desses, são muitos os casos de jovens envolvidos em ações extremistas. Ao que parece, os dois irmãos chechenos não estavam vinculados a nenhum grupo e agiram por conta própria, movidos por motivos religiosos e a jovem alemã era líder e única sobrevivente de um grupo de inspiração nazista Clandestinidade Nacional-socialista (NSU). Hoje vemos jovens de classe média de países ocidentais, que abandonam a família e vão para o Oriente Médio juntar-se ao autodenominado Estado Islâmico, o que parece não fazer qualquer sentido.

No livro Reconstruindo a vida Humana o mestre Masaharu Taniguchi diz que “Geralmente o jovem participa de movimentos extremistas também levado pelo desejo de se ocultar. Sente-se solitário quando não está participando entusiasticamente de um movimento coletivo”.[1]

Houve um tempo em que muitos jovens, inconformados com as distorções do sistema capitalista, engajavam-se em movimentos de extrema esquerda, com o intuito de reformar a sociedade através da violência e buscar o estabelecimento de um mundo mais justo, seduzidos pelos ideais do marxismo. Com o fim da União Soviética e as contradições que se evidenciaram claramente em países comunistas, como a China e Vietnã, que conjugam regimes políticos comunistas extremamente fechados e economia, paradoxalmente, capitalista, regida pelo mercado e com todas as distorções já conhecidas do capitalismo, ou a Coreia do Norte em que o comunismo só trouxe opressão e atraso social e econômico, a extrema esquerda deixou de ser atrativa aos jovens. O fato é que tanto o capitalismo como o socialismo partem da ilusão de tentar tornar o homem feliz através da produção e distribuição de matéria. Em suma são dois sistemas baseados no materialismo.

Em A Mente É Força Criadora o professor Seicho Taniguchi diz aos jovens: “Acalentem grandes sonhos em seu coração! Esses sonhos hão de se concretizar, se estiverem firmemente alicerçados sobre a fé na humanidade e o respeito pelos seres humanos”. Mas a sociedade globalizada e altamente tecnológica da atualidade, em vez de desenvolver e aprofundar o respeito pelos seres humanos, ocupa-se em glorificar a aquisição de posses e o rápido consumo, e a fé na humanidade é substituída pela fé no consumo. Como diz Manuel Castells, “Os sistemas políticos estão mergulhados em uma crise estrutural de legitimidade, periodicamente arrasados por escândalos [...]. Os movimentos sociais tendem a ser fragmentados, locais, com objetivo único e efêmero”. Este quadro coloca a juventude em uma crise de identidade e de pertencimento em que não é oferecido um ideal a se dedicarem ou um modelo que possa espelhar o ideal pelo qual anseiam ou um valor eterno a ser alcançado. Assim, o florescimento do fundamentalismo religioso nos países islâmicos, que estão atualmente entre os mais pobres e menos desenvolvidos ou o surgimento de seitas radicais, mesmo em países desenvolvidos, como foi o caso da seita Verdade Suprema, responsável por atentados no metrô de Tóquio e ressurgimento de ideologias racistas e intolerantes como o nazismo, entre jovens instruídos, são sintomas da crise generalizada de identidade e da necessidade da construção de um novo ser coletivo que possa dar sentido à vida.

Os dois jovens chechenos foram movidos por convicções religiosas de inspiração islâmica, certamente buscando no plano espiritual e religioso uma realização, que lhes parecia impossível no mundo material em que vivemos. A jovem alemã era líder de um grupo neonazista, com ideias xenofóbicas e conceitos anacrônicos de superioridade racial. Em que pese a loucura que foi o nazismo, ele ofereceu em seu tempo uma visão simplista do mundo que ainda é capaz de gerar adesões passionais, ao separar o mundo entre bons e maus e nós e eles.

O materialismo criou um mundo de desencanto em que o ser humano perdeu a sua dimensão mítica e o sentido de ideal, que foram substituídos pelo poder do capital e pela posse de mercadoria, tornando o mundo caótico e deixando a sociedade à deriva. Este é um poderoso fator de geração de crises individuais de identidade. O indivíduo não se sente reconhecido como pessoa, como personalidade digna de ser amada, fazendo aflorar as tendências negativas do ser e então, em casos extremos, os jovens buscam o martírio do extremismo político e religioso, como forma de satisfazer seu desejo de ser notado e reconhecido como pessoa. Em O Homem Contra Si Própiro Karl Menninger explica:

Há informações de que alguns mártires da antiguidade expressaram a máxima alegria e prazer na ocasião de morrer pelos meios mais sanguinários e dolorosos que se possa imaginar.

Isso pode ser entendido se lembrarmos o princípio de que as tendências destrutivas vão à frente e as tendências construtivas caracterizadas por sentimentos amorosos e eróticos seguem atrás.

Um desses recursos para aumentar as satisfações agradáveis de submeter-se ao ataque de outros ou submeter-se a ataque auto-inflingido depende do que chamamos de exibicionismo. Exibicionismo é uma satisfação mórbida em exibir-se diante de pessoas e, embora seja geralmente interpretado como um ato agressivo contra pessoas e por esse motivo condenado, é na análise mais profunda um prazer passivo. Representa, por assim dizer, uma extrema e dramática submissão aos olhos dos expectadores – não agressivamente, mas masoquisticamente. “Pela emoção e satisfação que minha entrega à morte possa proporcionar-vos, eu me submeto a isso.” E assim a necessidade de punição é dramaticamente satisfeita e acompanhada – atenuada - pelo prazer narcisístico de exibir-se e despertar emoções em outras pessoas.

(MENNINGER, Karl. Eros e Tânatos – O homem Contra Si Próprio. São Paulo: IBRASA: 2010. p.72)

O jovem tem necessidade de algo a que possa dedicar sua vida, algo que tenha valor eterno e para tanto é preciso que haja uma revolução na consciência do homem. A Seicho-No-Ie desenvolve o Movimento Internacional de Paz pela Fé que é um movimento de revolução da consciência e estabelecimento de uma nova civilização, que passa, necessariamente pela mudança de visão acerca do homem e de visão de mundo. A verdadeira fé na humanidade e o respeito pelos seres humanos só podem existir se estiverem firmemente fundamentados na correta fé de que o homem não é um ser carnal, mas sim uma existência espiritual e que o Universo em que vivemos é um Universo também espiritual em que todos os seres são irmãos e vidas originadas da mesma fonte.

[1] TANIGUCHI, Masaharu. Descoberta e Conscientização da Verdadeira Natureza Humana. 6ed. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2013. p.23.

 
 
 

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