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Diferença entre os conceitos de alma e espírito

  • Eduardo Nunes da Silva
  • 9 de jul. de 2016
  • 7 min de leitura

É frequente adeptos, dirigentes e preletores perguntarem a diferença entre os conceitos de alma e espírito, por isso apresento este estudo sobre o assunto. Em minha pesquisa não encontrei diferença semântica fundamental entre esses termos, a não ser o uso que as diferentes escolas de pensamento, os filósofos e os teólogos estabeleceram, cada qual de acordo com seu próprio modo de pensar e com a conveniência, para expressar determinadas ideias. No Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, no verbete da palavra espírito temos: “S. m. A parte imaterial do ser humano; alma”. Isto é, o dicionário usa a palavra alma para significar espírito. Os termos alma e espírito possuem, semanticamente, uma imprecisão que se reflete na abordagem dos temas que com eles se ligam. “No grego e no hebreu, a mesma palavra designa o vento e o espírito. É uma manifestação do divino” (SILVEIRA, Nise da. 2015. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Vozes, p.152).

Observamos que, na filosofia antiga e clássica, alma é sinônimo de espírito e se opõe a corpo. Contudo enquanto o corpo se destrói, seu princípio oposto, a alma, é indestrutível: donde a “imortalidade da alma”; não se fala da imortalidade do espírito. No vocabulário contemporâneo da filosofia só se usa o termo “espírito”.

(JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. 2008. Dicionário Básico de Filosofia. 5ª ed. Rio de Janeiro, p.7)

No Novo Testamento da Bíblia, encontramos distinção entre corpo, alma e espírito no capítulo 5 da primeira epístola aos tessalonicenses (versículo 23): “Que o Deus de paz vos santifique em tudo, a fim de que todo o vosso espírito, a alma e o corpo, se conservem sem culpa para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Uma das visões teológicas possíveis é a seguinte: Paulo distingue três elementos no homem: o espírito, iluminado pela fé e informado pela graça; a alma, a vida sensível ou também a razão, sem a graça; e o corpo material.

Outra forma de pensar afirma que a alma humana é espiritual, o que significa que ela não é material. Ou seja, para estabelecer a diferença entre os termos, começa por estabelecer a igualdade. Por fim, afirma que alma relaciona-se à sensibilidade, e espírito, à inteligência e vontade. Existe ainda outra corrente que afirma que a alma é a instância espiritual do homem (novamente usando o termo espírito para explicar a alma) e que o espírito, propriamente dito, é a centelha divina, o Espírito Santo, que habita em nós. Importante frisar que a teologia cristã considera herético o pensamento de que o homem possua mais de um corpo de natureza sutil, sendo dotado de apenas uma alma em que habita o Espírito de Deus.

Existe ainda outra linha que diz que o espírito é o elemento no homem que dá a ele a capacidade de ter um relacionamento íntimo com Deus. Sempre que a palavra “espírito” é usada, refere-se à parte imaterial do homem, incluindo sua alma. A palavra “alma” se refere não apenas à parte imaterial do homem, mas também à parte material. O homem tem um espírito, mas é uma alma. Em seu mais básico significado, a palavra “alma” significa “vida”.

Em Hebreus 4, versículo 12, temos: “ Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que toda a espada de dois gumes; chega até a separação da alma e do espírito, das junturas e das medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração”. Como o texto fala em separação, talvez esteja se referindo a corpos distintos. Utilizando a terminologia que usamos na Seicho-No-Ie, talvez o texto, ao dizer alma e espírito, esteja se referindo aos corpos astral e espiritual. De qualquer modo, isso é apenas uma especulação, sem fundamento sólido. Outra possibilidade é que o autor tenha se expressado dessa forma apenas como recurso de estilo. Tentando especular se, ao dizer alma, o texto estaria se referindo ao que convencionamos chamar de corpo astral, devemos lembrar que o termo astral também é bastante impreciso. A palavra astral foi utilizada com o sentido que empregamos hoje, pela primeira vez, ao que tudo indica, por Paracelso (1493-1541), referindo-se àquilo que é imaterial ou dos astros (astral). Melhor dizendo, Paracelso se apoderou de um termo criado para designar coisas do céu físico ou do espaço sideral, para designar coisas de uma dimensão extrafísica.

Além dos termos alma e espírito, na literatura espírita encontramos termos como “psicossoma”, “perispírito” e “corpo psíquico”. Psicossoma é a junção de dois termos gregos: psiché (alma ou mente) e soma (corpo). Corpo psíquico se refere ao corpo mental, portanto, de acordo com os termos que convencionamos usar a Seicho-No-Ie, corresponderia ao corpo astral; perispírito também se refere a corpo astral.

Há algum tempo houve uma mudança na tradução para o português da Sutra Sagrada Palavras do Anjo. Onde se lia “[...] e continua a viver no mundo espiritual. / Isso é o que chamam de espírito” passou a ler-se “[...] e continua a viver no mundo astral. / Isso é o que chamam de alma”. Essa mudança foi necessária porque havia uma imprecisão, posto que existe diferença entre mundo astral e mundo espiritual. Inclusive na tradução do idioma japonês para o inglês da Sutra Sagrada Palavras do Anjo (em japonês: Tenshi no Kotoba), consta a expressão astral world, e no caso dos termos alma e espírito, embora possam ser considerados como sinônimos, houve-se por bem, para evitar que se confundisse o mundo astral com o mundo espiritual, substituir o termo espírito por alma. Devemos observar também que, em japonês, o capítulo Espírito da Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade se intitula Rei (o erre inicial é o erre brando, como o erre intervocálico, das palavras em português), mas o termo da Sutra Sagrada Palavras do Anjo, que foi anteriormente traduzido como espírito, e agora alterado para alma, em japonês se diz reiko (também com erre inicial brando). O Rei tem sentido mais amplo, significando espírito, de maneira geral, e Reiko, mais estrito, significando alma individual ou espírito individual. Como os termos em japonês são distintos, também em português é bom usarmos palavras diferentes ao traduzirmos cada um deles.

Devemos observar que a Sede Internacional da Seicho-No-Ie recomenda a língua inglesa como parâmetro nas traduções para os idiomas ocidentais. Na Holy Sutra Song of the Angel (Sutra Sagrada Palavras do Anjo) temos: And will continue to live in the astral world. / This is your so called soul”. A palavra spirit é derivada da palavra latina espíritus, que em português é espírito, e a palavra soul também pode ser traduzida como espírito ou alma. Assim, onde na versão em inglês se usa o termo spirit, em português usamos espírito; e onde se usa soul, optou-se por usar na tradução para a língua portuguesa o termo alma.

De qualquer modo, é interessante analisar a questão partindo do ponto de vista filosófico e da espiritualidade. Na tradução brasileira do livro A Verdade da Vida, volume 21 (2013. 6ª ed., p.45), consta: “O vocábulo ‘espírito’, aqui, não se refere ao espírito universal, mas ao espírito individual, dotado de corpo espiritual (ou perispírito)”. Assim podemos perceber que o termo espírito pode ser usado no sentido de espírito universal, isto é, que transpassa o universo e, se concebemos esse espírito também como algo que não só permeia mas transcende o universo, a esse espírito podemos chamar de Deus. Mas também, conforme o texto citado acima, o termo espírito pode ser empregado com o significado de corpo espiritual individual. De acordo com o ensinamento da Seicho-No-Ie, o espírito universal e os espíritos individuais não são alheios entre si. Em A Verdade da Vida, volume 23 (2011. 3ª ed., p.118), consta: “Saibam que cada uma das incontáveis almas encarnadas e desencarnadas é reflexo de Deus único e verdadeiro”. Aqui o tradutor optou por usar o termo alma, e não o termo espírito. Aqui também o termo alma se refere a espírito humano individualizado, que não deixa, segundo o próprio texto, de ser uma manifestação do espírito divino.

A palavra espírito possui vasto significado. Seu significado generalizado é: algo imaterial, de poder misterioso. O termo espírito, às vezes, pode se referir a “Deus, princípio do universo” ou aos espíritos que saíram de seus respectivos corpos, isto é, as almas. Quando se diz o homem é espírito, não significa que o homem seja uma alma, mas sim que é um espírito divino, imaterial e de poder misterioso. Ter poder misterioso significa ter plenos e divinos poderes ou ser um espírito com inteligência superior. Frisando, o homem é espírito porque ele não é uma existência material, e sim a própria Vida com poderes plenos e divinos; um espírito de inteligência superior.

(TANIGUCHI, Masaharu. 2014. Convite à Felicidade, v.2. 10ª ed., São Paulo: SEICHO-NO-IE DO BRASIL, p.22)

Em livros como, por exemplo, Mistérios da Vida, o professor Masaharu Taniguchi nos diz que todos os seres são dotados de espírito, desde os minerais, vegetais, passando pelo reino animal, até chegar ao ser humano. Também há variações no mundo espiritual, como os espíritos humanos, de animais e os espíritos da natureza, conhecidos no Ocidente como gnomos, duendes, fadas etc.

Em linguagem corrente, espírito é o sentido profundo de algo: “Ele não entendeu o espírito da coisa”; espírito de um livro, de uma obra de arte; etc. Em Romanos, o apóstolo Paulo fala sobre o sentido profundo de sermos filhos de Deus por meio da expressão “Espírito de filiação”: “Já recebemos o Espírito de filiação pelo qual clamamos: ‘Aba, Pai’ (Romanos 8: 15)”.

Mas alma também pode ser entendida como sentido profundo de algo: “A cultura é a alma de um povo”; a alma de um vinho; poesia com alma; literatura com alma; etc.

Fundamentalmente não se pode estabelecer diferença absoluta entre os termos alma e espírito, embora, como dito inicialmente, várias escolas e pensadores estabeleçam diferença entre eles. O fato é que são sinônimos.

Observemos que, em se tratando de Seicho-No-Ie, os textos do mestre Masaharu Taniguchi foram escritos em japonês, portanto cabe aos tradutores escolher as palavras para expressar da melhor maneira em português o que foi inicialmente escrito em japonês. Seria plausível estabelecer-se um critério editorial particular para a Seicho-No-Ie. Por exemplo: o termo rei ser sempre traduzido como espírito e a palavra reiko, como alma. Naturalmente isso seria apenas um critério de padronização, mas não que os termos alma e espírito tenham, fundamentalmente, diferenças inegáveis entre si.

 
 
 

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