Sobre a expressão "orar da boca para fora"
- Eduardo Nunes da Silva
- 28 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

Os religiosos, muitas vezes, advertem as pessoas sobre a inutilidade de “orar da boca para fora”. De fato é inútil a oração que é feita com o intuito exclusivo de receber graças, sem, em primeiro lugar, amar a Deus. Por outro lado, muitas vezes orientamos pessoas, por exemplo, a fazerem oração para perdoar, na qual elas devem afirmar: “Eu perdoei você, você me perdoou. Eu e você somos um só perante Deus [...]”. Também, às vezes, orientamos pessoas que vivem em lares desarmoniosos a mentalizarem palavras afirmando que em seus lares reina perfeita harmonia, ou pessoas que estão em sérias dificuldades financeiras a afirmarem que são prósperas e infinitamente ricas. Diante disso, alguns indagam: “Mas vai adiantar alguma coisa fazer a oração só da boca para fora?” Em resposta, afirmo: “Não existe oração da boca para fora!” Isto porque a palavra tem força criadora.
A palavra cria todas as coisas. Mesmo uma oração aparentemente feita da boca para fora vai sendo interiorizada e acaba, eficazmente, purificando nossa mente e gerando os resultados esperados. Tomemos o exemplo da Oração para Perdoar. O mestre Masaharu Taniguchi nos ensina “Que por mais fortemente que oremos e mentalizemos, há casos em que a coisa almejada não se realiza. É porque existe um obstáculo escondido. É porque não se perdoou alguém”. Porque é dito que o obstáculo está escondido? É que muitas vezes as pessoas mantêm sentimentos negativos acumulados no inconsciente e nem se dão conta disto. Às vezes, quando falamos que é preciso perdoar, há quem retruque: “Mas eu até já esqueci”. Tanto pior, pois quando conscientemente temos um sentimento negativo na parte superficial da mente, podemos “administrar”, de alguma forma essa energia negativa, por exemplo, dando um soco na mesa, que é uma forma de extravasar. Mas quando o sentimento cai em esquecimento, sem que seja eliminado, ele fica acumulado nas camadas mais profundas da mente, agindo em surdina. Essa energia negativa acumulada, como um material radioativo, mesmo sendo imperceptível, continua agindo, fazendo com que a pessoa adoeça ou gerando acontecimentos infelizes. Em casos como esses, em que os ressentimentos, ódio e mágoa estão esquecidos, é comum, ao começarem a fazer oração, que os sentimentos desagradáveis reapareçam de maneira vívida. Equivocadamente, alguém pode pensar que a oração teve efeito contrário, isto é, o sentimento que, se ainda existia, já estava se desvanecendo, foi intensificado pela oração. Mas o que ocorre de fato é que aquilo que, até então, estava oculto, é trazido de volta à mente consciente, para ser eliminado. À medida que o praticante segue com a oração, vai se dando conta de que os sentimentos negativos vão aos poucos se dissipando. E se o praticante perseverar na oração, certamente chegará ao ponto de sentir gratidão, reconhecendo que aquele que, aparentemente, era um antagonista, foi um benfeitor que contribuiu para sua evolução espiritual.
Também ao fazer oração para mudar as situações da vida e o destino, mesmo que no início as palavras afirmativas soem vazias e não consiga acreditar nelas de todo o coração, à medida que perseverar na oração, sua atitude mental evoluirá para uma crença positiva e, finalmente, chegará ao nível da convicção inabalável. Um grande exemplo do que estou dizendo é o relato do preletor Kamino Kusumoto, que consta no livro Buscando o Amor dos Pais, em que ele narra que durante um mês fez oração de gratidão para o pai, a quem não conheceu, mas não conseguia sentir nada, até que atingiu o ponto de sentir profunda gratidão.
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