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Despindo as fantasias e tirando as máscaras

  • Eduardo Nunes da Silva
  • 8 de dez. de 2016
  • 4 min de leitura

Dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, quando, na Quarta-Feira de Cinzas, depois dos festejos de Momo, o cidadão tira a fantasia e a máscara e se entrega, finalmente, ao trabalho. Pode haver um pouco de verdade nisso, mas acho a afirmação um pouco exagerada. De qualquer modo, gostaria de refletir um pouco sobre até que ponto nós não ostentamos, todo o tempo, fantasias e máscaras, afim de evitar que as pessoas, mesmo as mais queridas, vejam o nosso íntimo e quem verdadeiramente somos.

As pressões que o mundo moderno exerce sobre os indivíduos são enormes e incontáveis. Progredir na carreira, estudar, buscar melhor qualificação, educar os filhos, ganhar mais dinheiro, simplesmente pagar as contas ou construir patrimônio etc. etc. etc. Dentro dessa conjuntura, temos de desempenhar nossos papéis sociais, de pai, filho, irmão, marido, profissional, empregado, patrão, estudante etc. E muitos se perdem dentro dessa corrida. Já trazem uma baixa autoestima e veem-na ainda mais rebaixada, quando não destruída. A sociedade globalizada e altamente tecnológica da atualidade, em vez de desenvolver e aprofundar o respeito pelos seres humanos, ocupa-se em glorificar a aquisição de posses e o rápido consumo, e a fé na humanidade é substituída pela fé no consumo. O homem moderno vive uma crise de identidade e de pertencimento.

O mestre Masaharu Taniguchi nos ensina que todo ser humano tem cinco desejos fundamentais, que são: ser amado, ser elogiado, ser reconhecido, ser útil e ser livre. Isto não se restringe às crianças, mas é comum a todos nós seres humanos. Mesmo o santo que realiza suas obras em segredo quer ser reconhecido por Deus.

Porém, na busca de sermos reconhecidos por nossos esforços e realizações e, de alguma forma elogiados e de nos sentirmo amados pelas pessoas e pelo meio social (família, amigos, colegas etc.), quantas vezes no desempenho de nossos papeis sociais não usamos fantasias e máscaras, ou criamos fachadas, em busca de agradar e da aceitação, por parte dos outros? Muitas vezes nos sentimos como se houvesse uma voz interior a dizer: “Agrade sempre!” Mesmo entre os carrancudos e agressivos, pode haver um impulsor interno a ditar: “Mostre a eles o quanto você é austero, como você exerce autoridade! Como você é forte e não precisa de ninguém!”, nisto também está embutido o desejo de, de alguma forma, ser reconhecido.

Criamos essas fachadas porque não conhecemos a nós próprios e pensamos que somos o eu fenomênico, e, comparando-o com os padrões impostos pela sociedade materialista, não nos julgamos bons o bastante e merecedores de amor, de elogios e de reconhecimento. Então, consciente ou inconscientemente, tentamos ostentar máscaras e fachadas que, acreditamos, serão mais facilmente aceitas pelos demais. Mas isto é uma tentativa, sempre frustrante de tentar saciar o que, dessa forma, não poderá jamais ser saciado. Mesmo que haja pessoas que nos amem verdadeiramente e reconheçam nossos virtudes e sentimentos, se não mudarmos a nossa percepção de nós mesmos, será como se amor e reconhecimento não existissem.

O ensinamento da Seicho-No-Ie é muito claro ao dizer que tudo parte de nosso interior e a nós retorna, isto é, o ambiente e inclusive os relacionamentos humanos são reflexos do nosso interior. Se queremos ser reconhecidos, amados e elogiados, devemos manifestar a capacidade de amar, reconhecer os demais e manifestarmos isso através dos elogios. Também devemos amar a nós mesmos, reconhecer a nossa real natureza, como filhos de Deus, e utilizar a força da palavra por meio do autoelogio. No livro Sabedoria para a Vida Cotidiana, v.1 (pp.124-125), o mestre Masaharu Taniguchi diz:

“Abençoar a nós e aos outros é reconhecer a presença de Deus em nós e nos outros e reverenciá-lO. Reconheçamos que cada pessoa é uma maravilhosa autoexpressão de Deus, louvemos mentalmente a natureza divina que se aloja em todos nós e façamos com que ela se manifeste. Sem antes abençoar a nós mesmos, não será possível abençoarmos verdadeiramente as outras pessoas. Primeiramente devemos abençoar e louvar a nós mesmos e despertar a nossa própria natureza divina”.

Não necessitamos de fachadas ou fantasias. Você não é seu corpo físico ou sua aparência. Suas habilidades, títulos ou cargos e propriedades também não são você. O que as pessoas pensam a seu respeito, ou como você é visto por alguns, também não constituem seu eu. Você é filho de Deus, um ser maravilhoso, dotado de todas as virtudes e de todos os potenciais.

Em A Verdade da Vida, v.20, de autoria do mestre Masaharu Taniguchi, consta o poema Idealiza um Grande Sonho, que em certo trecho (pp.221-22) diz:

Não te imagines um ser triste e sombrio.

Sabes que a MENTE é o criador onipotente,

e serás exatamente como te fizeres em tua mente.

Se te imaginares um ser triste e sombrio,

assim te tornarás.

Porém, se te imaginares um ser brilhante e poderoso,

assim tu serás, pois a MENTE é criadora onipotente.

Aqui o mestre nos ensina que aquilo que reconhecemos em nossa mente se manifesta de maneira visível e tangível. Isso é diferente da criação de fantasias e fachadas, porque não obstante tentemos criar uma imagem glamorosa e feliz, quando não queremos que vejam nosso íntimo, estamos nos fazendo em nossa mente “tristes e sombrios”.

Para reposicionarmos nossa mente, tornando-a radiosa e otimista, nós, em primeiro lugar, devemos enxergar nosso “Eu verdadeiro”, que é filho de Deus e é maravilhoso. Mesmo com a premência das tarefas e missões que a vida moderna nos impõe, podemos viver uma vida feliz e saudável, próspera e emocionalmente equilibrada. Para isso e a Seicho-No-Ie nos oferece instrumentais maravilhosos como a leitura das palavras da Verdade, contidas em revistas como Fonte de Luz ou nos livros da Seicho-No-Ie, e a prática assídua da Meditação Shinsokan, para interiorizar, até as camadas mais profundas da mente, a Verdade de que somos filhos de Deus. Reconheça que você é filho de Deus, que Deus habita seu interior e que você, assim mesmo como é, é um ser maravilhoso a quem nada mais precisa ser acrescentado.

 
 
 

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