Resiliência: como a Primavera, o ser humano também tem a capacidade e se renovar continuamente
- Publicado na Revista Mundo Ideal de dezembro de
- 22 de nov. de 2017
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A palavra resiliência vem sendo muito utilizada por profissionais de treinamento e desenvolvimento e há uma infinidade de publicações a respeito, voltadas a executivos, estudantes e pessoas em geral. Se não estou equivocado, a palavra resiliência sempre foi muito usada na área de engenharia, relacionada com a resistência de materiais, mas há algum tempo seu uso foi ampliado para as áreas de psicologia, administração, ecologia e recursos humanos. Segundo o Dicionário Aurélio, da Língua Portuguesa, “resiliência” significa propriedade de um corpo de recuperar sua forma original após sofrer choque ou deformação e também capacidade de superar, de recuperar-se de adversidades.
No trabalho, nos estudos, nos relacionamentos interpessoais e na vida cotidiana, de maneira geral, todos nós, com maior ou menor frequência, e com maior ou menor intensidade, passamos por situações estressantes. Somos premidos pelo tempo, pelas circunstâncias e por instituições e pessoas. Temos de cumprir prazos, bater metas, realizar performances, demonstrar desempenho e corresponder a expectativas pessoais e de terceiros. Cada um reage a essas pressões à sua maneira. Alguns passam bem pelas situações, voltando prontamente ao estado natural. Outros aproveitam para aprender, amadurecer, crescer e até, em alguns casos, se “reinventar”. No outro extremo, há aqueles que ao longo do tempo vão-se desgastando, sofrendo perdas emocionais, e há até os que se desestruturam profundamente.
Um bom exemplo de resiliência é o medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima, que nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foi, com muita justiça, escolhido para acender a Pira Olímpica. Esse Brasileiro, nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, vinha liderado a prova da Maratona, com 150 metros de vantagem sobre o segundo colocado, o italiano Stefano Baldini, e com reais possibilidades de ganhar a medalha de ouro, quando, depois de haver corrido 36 Km, foi interceptado e empurrado para fora da pista por Neil Horan, ex-pároco de uma igreja na Irlanda. Nesse momento, foi ultrapassado por Baldini e pelo norte-americano Mebrahtom Kefleizighi. Em uma prova de longa distância como a Maratona, uma quebra de ritmo como essa é um problema muito sério, mas, surpreendentemente, Vanderlei, auxiliado por populares, conseguiu retornar à prova com ritmo forte e conseguiu chegar em terceiro lugar, conquistando a medalha de bronze. Mais surpreendente que a recuperação de ritmo (resiliência física), foi sua atitude: em vez de se lamentar, maldizer a sorte ou ficar com raiva do perturbado Neil Horan, Vanderlei entrou no Estádio Panathinaiko, ponto de chegada da Maratona, fazendo festa, correndo com os braços abertos, imitando o voo de um avião. A seguir transcrevo a entrevista do próprio Vanderlei, concedida ao doutor Dráuzio Varela para um programa de TV:
“Eu estava muito concentrado, focado na prova, e só ouvia as pessoas gritando, incentivando, dando apoio [...] quando estava passando no quilômetro 35, 36, o cara pulou em cima de mim. Na verdade, eu não tive nem tempo de reação, de me defender. Nós caímos para a calçada, então vi aquele tumulto, aquele monte de gente – O cara vai me matar –; eu perdi as pernas (risos na plateia). Mesmo assim, em momento algum passou pela minha cabeça desistir. Eu só queria sair daquela situação e voltar para a prova. [...] Acho que o foco e a concentração fizeram uma grande diferença. Além disso, a vontade de vencer. Porque numa situação difícil com aquela você não volta a correr no mesmo ritmo e passa a ter uma insegurança muito grande na prova. Mesmo assim nada me tirava aquela condição de voltar para a prova. Eu queria voltar e foi isso que fiz. [...] Fui ultrapassado pelo Stafeno Baldini, logo atrás passou o Mebrahtom Kefleizighi, então dei uma olhadinha para trás – Eu vou ter que administrar aqui. Não pode passar mais ninguém (risos na plateia) – Quando o Stefano chegou ao estádio o pessoal aplaudiu, então chegou o Kefleizighi. Quando eu entrei no estádio, o estádio inteiro ovacionou de pé: “Uhaaaa!”. Aquilo me fez arrepiar todo. Nossa! (risos na plateia) E ali, naquele momento no estádio, acho que havia umas quarenta mil pessoas e uma expectativa muito grande – Será que o brasileiro vai chegar? – Então olhei para trás e não vinha mais ninguém. – Vou começar a fazer meu “aviãozinho”, eu quero comemorar (risos na plateia) – Nessa hora, eu já tinha me esquecido que o cara tinha me atrapalhado lá atrás. E, naquele momento no estádio, passou um filme da minha vida. Gente, vou reclamar de que?! Só lembro que eu cheguei até o final, e falei: “Obrigado Deus! Eu consegui!”. Ali, gostaria de falara para as pessoas que foi mais um obstáculo de muitos que eu já havia passado na minha vida, na minha carreira. Acho que a vida já tinha me preparado para determinados momentos. Acho que as coisas não acontecem por acaso, que tudo na vida da gente tem sempre um propósito. Deus coloca as coisas na vida da gente de maneira diferente. [...] E o que aconteceu comigo é uma resposta, não só para nós, mas para as pessoas ao nosso redor, de uma maneira que você pode, diante de uma atitude, de um exemplo, ser a diferença para muitas pessoas. Foi assim que eu consegui chegar à minha atitude naquele momento. Aquilo, não foi nada planejado, não foi nada pensado. Foi muito espontâneo. Há coisas que só o esporte pode nos proporcionar. Tem coisa que a gente acha que está perdido, que a gente foi derrotado, e às vezes a decisão, a transformação de nossas vidas está em coisas simples, que muitas vezes estão ao nosso redor.”Vanderlei chegou em terceiro lugar e ganhou a medalha de bronze, o que não é pouco. Posteriormente foi reconhecido por sua atitude, pelo Comitê Olímpico Internacional, que o laureou com a Medalha do Mérito Olímpico, Pierre de Coubertin, tornando-se o único latino-americano a receber a honraria.

Recentemente assisti o filme Walt Antes do Mikey, dirigido por Khoa Le, baseado no livro homônimo, que conta a história dos primórdios da carreira de Walt Disney. O criador de Mickey Mouse, Pato Donald e tantos outros personagens, e idealizador dos parques temáticos Disneylândia e Walt Disney Word, antes de tornar-se cofundador da The Walt Disney Company e tornar-se o maior ganhador do Oscar, tendo recebido mais de 20 estatuetas da Academia de Cinema, teve vários fracassos e passou por duas situações de falência. Quando, finalmente havia obtido sucesso com o coelho Oswald, um personagem de animação, e poderia gozar de maior independência, desvencilhando-se de outra companhia, que fazia a distribuição de seus filmes de animação e que praticamente ficava com todos os lucros, Disney descobriu que, por força de contrato, o coelho Oswald pertencia à distribuidora, e não a seu criador. Sem esmorecer, ele criou um novo personagem, um camundongo, a quem, inicialmente, deu o nome de Mortimer, mas Lilly, esposa de Disney, sugeriu o nome Mickey, que foi imediatamente aceito. Com a criação de Mickey, sua principal estrela, os horizontes de Disney se ampliaram, abrindo as portas para o sucesso.
Os exemplos de Vanderlei Cordeiro de Lima, Walt Disney e tantos outros são inspiradores, mas também há pessoas que sofrem e não conseguem se recompor diante de revezes e há até os que sucumbem completamente diante das adversidades. Ser ou não resiliente não tem a ver com alguma suposta predisposição espiritual. Nem é como já ouvi alguém dizer, uma predisposição genética. Não é disso que se trata. A pessoa resiliente é aquela que reconhece em seu interior, consciente ou inconscientemente, um ser que não pode ser destruído ou lesado por pressões ou adversidades.
No livro Descoberta e Conscientização da Verdadeira Natureza Humana (3ed., 2012. p. 43), o mestre Masaharu Taniguchi diz que “Devemos saber que só é possível manifestar ao máximo nossa capacidade inata quando nos conscientizamos de que somos antes de tudo filhos de Deus, possuidores de infinita força interior, que só se manifesta pela autoconfiança e pelo esforço próprio ao transpor cada obstáculo”.
Cecília Meireles escreveu: “Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”. A primavera pode se deixar cortar, porque de fato ninguém pode cotar a primavera. Podemos talar as árvores, despetalar as flores, e virá o verão e depois o outono, a mudar as cores das folhas, que por fim cairão e virá o inverno. Mas a primavera sempre ressurge, por isso Cecília também escreveu: “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebe-la”. Não importa quantos “cortes” tenhamos sofrido, seja na vida sentimental, familiar, estudantil, profissional etc., podemos voltar sempre inteiros, como nos ensina a primavera. Assim como a primavera é perene, nossa natureza de filho de Deus também é perene. Em O livro dos Jovens o mestre Masaharu Taniguchi exorta os jovens a desenvolver sua força espiritual enfrentando as dificuldades e escreve:
Todas as coisas ou fatos que parecem constituir dificuldades, todas as pessoas que parecem ser nossas inimigas, são, na verdade, os nossos aliados. Tudo aquilo que parece ser tristeza, tudo aquilo que parece ser infelicidade, na realidade não são tristezas nem infelicidades; são temperos que dão um sabor especial à nossa alma.
(TANIGUCHI, Masaharu. O Livro dos Jovens. 33.ed. 2013, p.63)
Para se tornar resiliente e verdadeiramente invulnerável, conscientize-se cada vez mais profundamente de sua real identidade: você é filho de Deus. Você nasceu como prolongamento da Vida de Deus! Se até agora você se considerou um ser fraco ou sem talento, isso é ilusão. Talvez não tenha a capacidade criativa de um Disney ou vocação e tipo físico para ser um atleta de elite, como Vanderlei Cordeiro de Lima, mas, como filho de Deus, certamente tem um dom especial e pode contribuir grandemente para o desenvolvimento da família, da pátria, da sociedade humana e do mundo. Para descobrir seus potenciais, o primeiro passo é buscar a conscientização, cada vez mais profunda, de sua condição de filho de Deus. Para tanto, leia continuamente a Revista Mundo Ideal e livros da Verdade como O Livro dos Jovens, Ensinamento da Verdade para Jovens, Leve Avante Sua Vida, Dinamize Sua Capacidade e tantos outros, editados pela Seicho-No-Ie, e pratique com assiduidade a Meditação Shinsokan. A leitura dos livros não visa apenas agregar conhecimentos, mas também cumpre a função de purificar nosso inconsciente, removendo os complexos e conceitos errôneos, e, associados à prática da Meditação Shinsokan, permitem a conscientização cada vez mais profunda de nossa natureza divina, como filhos de Deus, criados à imagem e semelhança do Pai.
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