Conectando a sociedade através de redes de amor verdadeiro
- Eduardo Nunes da Silva
- 6 de fev. de 2020
- 5 min de leitura

Vivemos imersos em um colossal emaranhado de informações binárias em que dados e algoritmos circulam em alta velocidade através de redes interativas de computadores. No Brasil, mais de 130 milhões de pessoas a partir de 12 anos de idade têm acesso à Internet. Somos o maior país em número de usuários de redes sociais como Facebook, Instagram, Linkdln, Twitter, WhatsApp etc. Não houve na história da humanidade nada que tenha impactado e transformado tanto a humanidade em espaço de tempo tão curto como Internet. Não é a primeira geração a conviver com a Internet, mas agora temos uma nova geração que entrou no mundo em um universo digital e móvel, com o celular conectado à rede. Há quem a chame de geração pós-millenials ou geração touch.
Lançado em 2004 na Universidade Harvard, o Facebook, segundo relatório consolidado em junho de 2018, integra 2,23 bilhões de usuários, sendo 127 milhões no Brasil. Embora adolescentes e universitários constituam cerca de 40% dos integrantes das redes sociais, os segmentos que mais crescem, são formados de pessoas na faixa compreendida entre 40 e 60 anos. Apesar da predominância do Facebook, o WhatsaApp vem ganhando cada vez mais relevância e já ultrapassou 1,5 bilhão de usuários. Descortina-se à nossa frente a promessa de um mundo sem fronteiras e que, ao mesmo tempo, parece restringir nosso movimento em direção aos outros. Cada vez mais conectados e alguns, paradoxalmente, cada vez mais solitários.
Pesquisas já comprovaram que é falsa a ideia de que as pessoas usam a Internet para substituir relações verdadeiras ou criam ilusões de relacionamento e evitam contatos reais, contudo, também, não é real a ideia de que a rede resolverá os problemas de socialização e é verdade que pessoas que usam a Internet para interação social estão cada vez mais solitárias. Principalmente nos grandes centros urbanos verifica-se que a solidão em si e os sofrimentos psíquicos advindos dela, a violência relacional e impulsos autodestrutivos estão em movimento ascendente.
Compartilhar a vida de modo construtivo, generoso e prazeroso, eis o grande desafio de nosso tempo, embora redes sociais e plataformas virtuais possam ser úteis para apoiar relacionamentos já existentes. A palavra japonesa Hotoke (Buda) originou-se do verbo hodokeru, que significa desprender-se, libertar-se. Um Buda é aquele que alcançou a plena iluminação ou, em termos cristãos, aquele que conseguiu manifestar perfeitamente o Cristo interior. A natureza de Cristo é um estado de felicidade plena. A felicidade está relacionada com ser capaz de desprender-se (hodokeru) do “pequeno eu” e “derramar-se” além dos limites de seus interesses em direção ao outro.
O fundador da Seicho-No-Ie, Sagrado Mestre Masaharu Taniguchi, também foi um jovem solitário, mas diz que no fundo ansiava por contato humano. Como sempre teve veia literária, costumava escrever artigos e enviava para o jornal do colégio na expectativa de serem aprovados e ficava exultante quando os via publicados. Já com mais idade, ele analisou e concluiu que o fato de mandar os artigos ao jornal para serem publicados, em parte, encerrava o anseio de relacionar-se com as outras pessoas, ainda que de forma indireta, de ser reconhecido e amado pelos demais.
As pessoas que se sentem solitárias são aquelas encasteladas em seus medos e aflições, assumindo uma posição defensiva em relação ao mundo e à vida. Lya Luft escreveu em A Casa Inventada: “Se pararmos para ouvir, quem sabe vamos perceber a dor pelo tempo desperdiçado sentindo raiva, inveja, sendo intolerantes, difamando, mentindo, criticando com azedume, passando por cima do outro, esquecendo quem nos ama de verdade, humilhando para nos sentimos superiores, sendo cruéis, quando poderíamos estar curtindo momentos preciosos”. Sentimos medo de ser alvo desses sentimentos destrutivos, quando não somos nós a nutri-los em nosso interior. Mas isto não quer dizer que as pessoas sejam más, apenas carecemos de amor e temos medo de ser feridos pelos outros. E aqueles que ferem e magoam, no fundo, não estão fazendo outra coisa senão se defender, como uma taturana que causa horror aos outros e produz queimaduras em quem nela tocar, como defesa contra os possíveis predadores.
A palavra japonesa musubi, em linguagem atual corresponde a amor. Musubi tem o sentido de união dos elementos que são originariamente unos, mas que ficaram separados por algum motivo e, ao retornarem à unidade, geram um novo valor. Tomando como exemplo o aperto de mão, ele dá a sensação de ternura ou respeito entre duas pessoas, porque nesse ato há união. Estudos científicos indicam que o abraço, outro ato de união, pode diminuir tensões, aliviar dores e ajuda a manter equilíbrio emocional. Sentimo-nos felizes quando nos aproximamos dos outros porque somos originariamente unos. Rompa os limites do “pequeno eu” e “derrame-se” em direção ao outro, além das máscaras, das autolimitações, perdoe sem reservas, seja generoso. O mundo nos traz de volta aquilo que oferecemos a ele. O mestre Masaharu Taniguchi nos diz no primeiro volume do livro Ensinamento da Verdade para Jovens (p.48) que “enquanto mantiver o pensamento de defender a ‘si mesmo’, o homem não consegue alcançar a verdadeira paz e o verdadeiro contentamento, isto porque o pensamento de ‘defender-se’, pressupõe a existência de inimigos’”. E prossegue o mestre Masaharu Taniguchi: “A verdadeira felicidade vem quando nos despimos completamente do nosso ‘pequeno eu’ e expomos a nossa vida. O verdadeiro Ser Absoluto vive dentro nós mesmos. Ele é ‘Deus que habita em nós’”.
Na canção Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto, de Renato Russo, a letra diz: “Até algum tempo atrás/ poderíamos mudar o mundo”, e indaga: “Quem roubou nossa coragem?”, mas ninguém pode roubar nossa coragem, basta nos conscientizarmos de que Deus habita nosso interior e vamos ver que em nosso interior existe uma coragem inquebrantável. Tenha grandes aspirações e acredite firmemente que é capaz de avançar rumo a grandes realizações. Não é preciso caminhar sozinho. Você pode neste momento dar as mãos aos companheiros do Movimento Jovem da Seicho-No-Ie. No livro já citado, Ensinamento da Verdade para Jovens, v.1 (p.152), o Sagrado Mestre Masaharu Taniguchi diz aos jovens: “Não se limite ao autoaprimoramento através da leitura. Reúna-se a outros jovens, auxilie os retardatários, encoraje ainda mais os líderes através de elogios, e amplie cada vez mais o Movimento de Iluminação da Humanidade! A união faz a força, gera poder de atração”.
Conheci a Seicho-No-Ie ainda na minha adolescência e comecei a participar da Associação dos Jovens. Naquela época era extremamente tímido e introvertido, apesar disto fui acolhido e incentivado pelo grupo e construí ao longo do tempo inúmeros laços de amizade que me auxiliaram muito e alguns perduram até hoje. Espero sinceramente que a “Nova Geração da Família Seicho-No-Ie” cada vez mais seja ponto de encontro de jovens de coração puro e sincero e que possam criar e fortalecer laços de amizade e amor, rompendo as amarras do “pequeno eu” e derramando-se além dos próprios limites, em direção ao demais, para purificar a sociedade, engrandecer a Pátria e abrir o caminho para que toda a humanidade possa viver feliz e em paz.
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