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Nossa Vida é sagrada e nosso corpo é templo da Vida de Deus

  • Eduardo Nunes da Silva
  • 24 de jul. de 2020
  • 10 min de leitura

No livro A Humanidade É Isenta de Pecado[1], o mestre Masaharu Taniguchi explica que aquilo que mais restringe a liberdade do homem é o seu próprio corpo carnal, que representa para nós uma prisão, por isso no fundo as pessoas odeiam o próprio corpo físico. Por outro lado, o Apóstolo Paulo diz em sua carta aos Efésios: “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta” (Efésios 5:29), isto é, normalmente o que se espera das pessoas é que, de forma consciente, não aborreçam a própria carne, mas procurem alimentá-la e sustentá-la.

Porém, há algum tempo vem causando crescente preocupação o aumento significativo do número de casos de violência autoinfligida, principalmente entre jovens. Entenda-se como violência autoinflingida tentativas de suicídio, suicídio, autoflagelação, autopunição e autolesão. A autolesão representa qualquer comportamento de agressão intencional ao corpo, sem intenção consciente de suicídio.

Visitando certa escola na qual a Seicho-No-Ie faz um trabalho, através da Associação dos Educadores, conversando com a diretora para conhecer um pouco melhor as demandas da instituição, ela comentou sobre a incidência de casos de alunos (principalmente meninas) que praticam autolesão. Especialistas avaliam que um entre cada cinco adolescentes brasileiros já impingiu propositalmente alguma lesão a si próprio. Por paradoxal que possa parecer, práticas como a autolesão, são tentativas de diminuir o sofrimento, em que troca-se o mal por um “mal menor”, isto é, troca-se o intenso sofrimento emocional, pelo sofrimento percebido como menor, que é a dor física autoinfligida. O fato de alguém encontrar alívio na dor não pode ser explicado com facilidade, mas os sofrimentos íntimos e temores invisíveis, para essas pessoas são muito maiores que os sofrimentos visíveis, como as lesões que elas próprias causam em seus corpos.

Podem haver pessoas que interpretam equivocadamente os ensinamentos da Seicho-No-Ie que dizem que doença, transtornos e sofrimentos não têm existência verdadeira, e pensam que, em hipótese alguma, devem recorrer a tratamentos médicos, buscando apenas a cura pelo caminho religioso. O professor Seicho Taniguchi, no livro Viver com Pureza (3ed., 2014. p.166) diz que “Portadores de qualquer doença podem perfeitamente se submeter a tratamento médico-hospitalar”. Em especial, em casos de violência autoinfligida, o fato de buscar uma solução religiosa não quer dizer que devemos prescindir do apoio e orientação profissional, como acompanhamento psiquiátrico e psicoterapia, além de uma rede de apoio social, que deve envolver família, amigos, cônjuge, vizinhos, orientador religioso, colegas de escola e trabalho. Havendo o renascimento espiritual, qualquer problema pode ser superado, mas atingir o despertar espiritual não é coisa tão simples e o fato de haver problemas dessa natureza indicam que há considerável montante de ilusões acumuladas no seio da família, por isso é bom contar com uma rede de auxílio, para preservar a integridade e a própria vida das pessoas.

O comportamento autolesivo ocorre em diferentes faixas etárias, predominando entre adolescentes e pessoas do sexo feminino. De qualquer modo, não é possível traçar um perfil único para jovens com tendência à violência autoinfligida. Ao abordarmos este assunto talvez venha à mente de alguns leitores a imagem de um adolescente com roupas estranhas e cabelo desleixado ou corte radical de cabelo, com inúmeras tatuagens e piercings, uma vez que tatuagens e pirsings são uma forma atenuada de automutilação, ainda que aceitos socialmente. Desculpem-me os leitores que têm tatuagens ou piercing. Talvez outros possam imaginar alguém extremamente taciturno e solitário. E, de fato, há pessoas que praticam ou que tendem à violência autoinfligida que se enquadram nos perfis descritos, como também há pessoas que se vestem de forma discreta, são bons alunos e filhos obedientes e também há os extrovertidos e dados a gracejos e tiradas espirituosas. O que podemos dizer é que existem perfis os mais variados, mas todos eles têm em comum um profundo sofrimento que os pais e pessoas ao redor, de forma geral, demoram a perceber.

No Internet encontra-se a matéria intitulada Aumentam os casos de Automutilação entre Jovens (disponível em <https://veja.abril.com.br/saude/aumentam-os-casos-de-automutilacao-entre-jovens/> Consulta em 22/02/20), no qual dão algumas orientações de como reconhecer os jovens que se machucam: no comportamento: isolamento, tristeza, crise de raiva e mudança no desempenho escolar são indícios de que algo pode estar errado; na roupa: para esconder os cortes, os adolescentes podem usar roupas inapropriadas para a temperatura – como blusões de mangas compridas em dias quentes, por exemplo; no corpo: surgem cortes pequenos e superficiais. Em geral, as justificativas não são razoáveis: os jovens culpam desde o gato até uma trombada desastrada. O mesmo site também propõe algumas formas para tentar ajudar: não brigue: a primeira reação dos pais ao descobrir a automutilação costuma ser de revolta. Por o adolescente de castigo ou gritar com ele não vai ajuda-lo a sair da situação; Aproxime-se: faça perguntas que mostrem interesse, e não cobrança. Por exemplo: “Você pode me ajudar a entender o que está acontecendo e porque fez isso?”; procure um profissional: A automutilação não deve ser considerada exagero, frescura ou imaturidade. Comportamentos desse tipo têm de ser tratados por psiquiatra e psicólogo; tenha paciência: parar de se machucar requer tempo e o desenvolvimento de estratégias para gerenciar as pressões e o sofrimento emocional. Por isso recomenda-se um especialista.

Reforço a recomendação de recorrer a uma rede de apoio social, incluindo o concurso de profissionais como psiquiatra e psicólogo. Por isso é importante lembrar que estamos propondo um caminho religioso e religião difere de terapia espiritual, bem como de psicoterapia ou qualquer outra forma de terapia convencional ou alternativa.

Deparando com situações de violência autoinfligida, o primeiro conselho que podemos dar aos pais é não repreender o filho, nem se desesperar. O jovem é apenas vítima de desajustes de uma família desarmoniosa. Envolva o filho com profundo amor e tenha fé. Não há nada que a Seicho-No-Ie não possa salvar.

Em sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo exorta os homens da seguinte forma: “Assim devem também os maridos amarem as suas mulheres, como seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama a si mesmo” (Efésios 5:28-29). A vida dos pais e a Vida dos filhos são originalmente uma só Vida, como também a Vida do marido e a Vida da mulher são uma só vida, este é um ensinamento básico da Seicho-No-Ie. Quando ocorre do filho investir contra sua própria carne, os pais devem refletir com sinceridade se eles próprios não nutrem entre si pensamentos que cortam e mutilam um ao outro. Pensamentos e palavras de crítica, de acusação, de agressão são como facas e navalhas. A Revelação Divina Ensinamento sobre a Vida e a Morte diz: “Aquele cuja mente vivifica os irmãos vive; e aquele cuja mente mata os irmãos morre”, aquilo que lançamos contra o outro retorna a nós. Prossegue a revelação divina: “Matar não significa golpear alguém com uma espada. Aquele cuja mente não vivifica os irmãos está matando-os”. Como disse o apóstolo Paulo: “Quem ama a sua mulher ama si mesmo”. De igual maneira, quem ama a seu marido ama a si mesma. O casal é uma unidade e os cônjuges constituem uma única vida. Quando há atrito mental entre os cônjuges, isto é, quando os cônjuges estão mentalmente se matando mutuamente, é como se estivessem aborrecendo a própria carne.

Todo conteúdo mental busca alguma forma de se expressar. Os ressentimentos e agressões mentais, ainda que as pessoas disfarcem muito bem e tentem esconder seus reais sentimentos, mais cedo ou mais tarde virão à tona. “Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Porque o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados” (Lucas 12:2).

A Revelação Divina da Unidade entre o Eu e o Outro diz que “O caminho de Deus detesta sobremaneira o cortar (rompimento), que é o oposto de unir. Não é bom ficar irado ou criticar, pois isso significa cortar o próximo com a mente”. Os filhos tem especial sensibilidade para captar o sentimento dos pais. Quando a mãe, o pai ou ambos abrigam em sua mente sentimentos cortantes como navalha, contra si próprios, um contra o outro e/ou contra outras pessoas, isto pode se manifestar nos filhos como violência autoinfligida. Os casais que tem filhos com esse tipo de problema, após uma reflexão sincera, devem, com humildade, se reconciliar. No caso de casais separados, também devem se esforçar para perdoarem-se mutuamente, o mesmo vale para pessoas que geraram o filho entre si, mas que nunca constituíram um casal. Para perdoar, eliminando os “pensamentos cortantes”, é recomendável que reservem um horário fixo e todos os dias por, pelo menos, 30 minutos, façam a Oração para Perdoar, que pode ser encontrada no livro Minha Orações ou no livrete Meditação para Contemplar Deus, Shinsokan e Outras Orações.

A discórdia conjugal, a ingratidão filial, o ódio recíproco entre familiares, o rancor, a tristeza, a incerteza, o medo, o abatimento, e outros pensamentos sombrios, não sintonizam com a luminosa Vida de Deus. Para que toda a família tenha saúde, é preciso que os cônjuges se reconciliem, que os filhos sintam gratidão aos pais e que haja plena harmonia na família.

(TANIGUCHI, Masaharu. A Felicidade da Mulher, v2. 15ed. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1997. p.134)

“Uma coisa é certa: o comportamento problemático dos filhos é sempre reflexo da mente problemática dos pais”, assim afirma o preletor Kamino Kusumoto (Pela Paz dos Anjinho. 1ed. p.21). E prossegue ele: “O mestre Masaharu Taniguchi já disse: ‘O filho é espelho dos pais”.

A orientação é para que os pais orem e se harmonizem, mas há casos em que apenas um dos dois, pai ou mãe, reconhece a necessidade de mudança de atitude mental ou está disposto a mudar. Não importa, aquele que entendeu primeiro a Verdade, que a pratique. Há casos em que um dos dois é irascível, ou apresenta uma personalidade arrogante e intransigente, que é difícil até pensar que venha a haver harmonia. Também há casos em que um dos dois sumiu no mundo e seu paradeiro é desconhecido. Não importa. O amor do pai ou o amor da mãe, mesmo que apenas um esteja disposto a mudar de atitude mental, é capaz de abranger a tudo e iluminar a vida dos filhos e estabelecer a harmonia entre todos.

Certa ocasião, recebi uma jovem mãe que estava tendo o primeiro contato com a Seicho-No-Ie, trazida por uma vizinha que é adepta. Ela fez algumas perguntas acerca do ensinamento e depois falou sobre a filha adolescente que tem estado depressiva e que já praticou autolesão, cortando-se nos braços. Os pais já não estão mais juntos, então orientei à mãe para que perdoe e se harmonize mentalmente com o pai da garota. Não é preciso ir atrás do pai para que ele também ore, basta, em casos como esse, que a mãe ore e se purifique. Quando a mente se purifica, tornamo-nos felizes. A mãe tornando-se feliz, a filha também se sentirá feliz.

Há casos de jovens que usam a autolesão também como forma de chamar atenção dos pais e chegam a postar as imagens de seus machucados em redes sociais. Os pais também devem refletir se não estão deixando de dar atenção aos filhos e, em caso afirmativo, devem passar a ser mais presentes e também orar, pedindo perdão pela falta de atenção de até agora. No caso de pai ou mãe ausente ou que não dá a devida atenção, o pai que se conscientizou e está disposto a auxiliar o filho a superar seus sofrimentos, não deve censurar o outro, pelo contrário, deve dizer constantemente ao filho: “seu pai (ou sua mãe) o ama. Se ele ou ela não se faz presente é porque ele(a) tem dificuldades para expressar o amor”. Mesmo no caso de pai ou mãe que se mantém distante, essa pessoa faz parte da vida e não pode ser eliminada ou ignorada como se não existisse. É preciso entender que, de algum modo, esse pai ou mãe está ensinando alguma lição e realmente ama o filho.

Purificando nossa mente a mente dos filhos também se purifica. O amor é capaz de desenvolver a empatia profunda e identificar-se com a vida do outro. Se há antagonismo entre os pais é porque ainda não foram capazes de se colocar na posição do outro e oferecer o verdadeiro perdão e evoluir até o ponto de sentir gratidão profunda.


No japonês arcaico usava-se o temo musubi[2] quando se falava em amor. Com o espírito de musubi, podemos nos harmonizar com todas as pessoas e todas as coisas. O amor, ou seja, o espírito musubi, é a consciência de que eu e os outros somos originariamente um, embora pareçamos separados quando vistos sob o aspecto exterior. O amor está presente no interior de todos nós – isso significa que tanto eu como os outros trazemos no interior a Imagem Verdadeira e somos originariamente um. No que tange a Imagem Verdadeira, eu e os outros somos um, e, por isso, essa unidade se manifesta concretamente.

(TANIGUCHI, Masaharu. Princípio Básico da Felicidade. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. pp.331-332)


Se ambos os pais oram, devem caminhar para o ponto de perdoarem-se, amarem-se, reverenciarem-se e agradecer mutuamente. Se apenas um dos dois ora, não importa, porque no fundo as vidas estão ligadas e se refletem mutuamente. Aquele que ora, deve busca perdoar, amar, reverenciar e agradecer profunda e incondicionalmente.


Em casos em que os filhos apresentem tendência à autodestruição os pais devem analisar os seguintes pontos: não estão sendo excessivamente generosos ou excessivamente rigorosos? Há harmonia entre pai e mãe? Não cultivam ódio contra seus pais e sogros? Cultuam devidamente os antepassados de ambas as famílias? Com certeza constatarão que estão em falta quanto a pelo menos um destes itens. Uma vez percebida a falta, arrependam-se e iniciem imediatamente a prática de gratidão! A Seicho-No-Ie nos ensina que todos os crimes ou erros “desaparecem com o arrependimento”.

(KUSUMOTO, Kamino. Pela Paz dos Anjinhos. 10ed. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2005. p.68)


Façam uma análise sincera sobre esses pontos e iniciem imediatamente a prática de gratidão. Perdoar, reverenciar e agradecer, este é o caminho. Pratiquem a Meditação Shinsokan contemplando a Imagem Verdadeira do filho envolvido pelo seu amor e plenamente feliz, protegido pelo amor abrangente e pela onipotência de Deus.


Lembre-se:

  • O filho é espelho dos pais.

  • “Quem ama a sua mulher ama si mesmo”. De igual maneira, quem ama a seu marido ama a si mesma.

  • Todo conteúdo mental busca alguma forma de se expressar. Os ressentimentos e agressões mentais, ainda que as pessoas disfarcem muito bem e tentem esconder seus reais sentimentos, mais cedo ou mais tarde, virão à tona.

  • Quando a mãe, o pai ou ambos abrigam em sua mente sentimentos cortantes como navalha, contra si próprios, um contra o outro e/ou contra outras pessoas, isto pode se manifestar nos filhos como violência autoinfligida.

  • Purificando nossa mente, a mente dos filhos também se purifica.

[1] TANIGUCHI, Masaharu. 13ed. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. p.41

[2] N. da T do livro citado.: Musubi , vínculo, união, ligação.

 
 
 

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