Por maior que seja o sofrimento, vai passar
- Eduardo Nunes da Silva
- 17 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
Hoje se fala muito em bullying, que ocorre principalmente nas escolas, mas também nas empresas e até em alguns lares. Bullying é uma palavra de origem inglesa e, grosso modo, significa uma ação contínua de constrangimento e violência física ou psicológica de um agressor ou grupo de agressores contra a vítima. A violência e constrangimento envolvem agressões verbais, físicas e psicológicas que podem traumatizar seriamente as vítimas, gerando consequências sérias, como depressão e distúrbios de comportamento. No Japão não usam a palavra bullinyng, mas dizem ijime e no livro Viver com Pureza (3ed., 2014. p.164) o mestre Seicho Taniguchi comenta que é um fenômeno comum nas escolas japonesas em que um grupo ou um indivíduo inflige perseguição e maus-tratos a um colega indefeso.
Nesta vida, são muitas as pessoas que não sabem que são filhas de Deus, e, assim, causam muitos sofrimentos e discórdias. Ocasionam também maus-tratos a colega de escola. Mas tudo isso acontece porque ainda não reconhecem quão maravilhoso é o outro, e que elas próprias são maravilhosas.
(TANIGUCHI, Seicho. Um Futuro Brilhante nos Espera. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. p.17)
O filme Até o Último Homem, de 2016, com roteiro de Andrew Knight e dirigido por Robert Schenkkan, conta a história real de Desmond T. Doss, vivido na tela por Andrew Garfild, o mesmo de Homem Aranha. Até o Último Homem retrata a situação em que o protagonista foi vítima de bullying, sendo desprezado e humilhado por seus companheiros de quartel. Desmond Doss nasceu em 7 de fevereiro de 1909, no Estado da Virgínia, Estados Unidos e ainda em sua infância seu pai, bêbado, sacou uma arma durante uma discussão com o cunhado (tio de Desmond). Nessa ocasião, a mãe pediu para Desmond pegar e esconder a pistola calibre 45 em um lugar seguro. Depois de atender ao pedido da mãe, ele, que foi criado sob rígidos princípios religiosos, fez o juramento a Deus de jamais empunhar qualquer arma.
Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, Desmond, com apenas 18 anos de idade, se alistou no exército, disposto a colaborar no esforço de guerra de seu país. Mas seu voto de não tocar em armas era um problema para alguém que quer servir no exército. Sua intenção era fazer parte do corpo médico, ajudando a socorrer os companheiros feridos.
Integrado ao exército, devido à sua recusa de tocar em armas e seu fervor religioso, começou a sofrer bulling dos colegas e sequer podia contar com os superiores, pois também não simpatizavam com eles que consideravam um problema ter um soldado desarmado em suas fileiras. Desmond chega a ser levado à corte marcial e quase foi expulso do exército. Não tinha amigos e os colegas o chamavam de covarde e inútil, e atiravam botas nele quando estava orando. Ele era adventista do sétimo dia e, seguindo o preceito de sua religião que guarda o sábado, não trabalhava nesse dia, por isso sobrecarregavam-no de trabalhos aos domingos, com tarefas desagradáveis e uma série de outros maus-tratos. Mesmo com todos esses obstáculos, Desmond continuou firme com suas convicções. Ele se apresentou como voluntário, mas diante dos problemas que enfrentava, poderia ter pedido baixa do exército sem problemas, pois as leis dos Estados Unidos permitem aos cidadãos, por motivos religiosos, não se envolverem em conflitos bélicos e não participarem das forças armadas. São os chamados “opositores de consciência”, mas Desmond dizia que não era um opositor, mas um “colaborador de consciência”.
Finalmente, foi enviado à frente de batalha e no dia 5 de maio de 1945, na batalha da Escarpa Maeda, na Ilha de Okinawa, Japão, o contingente dos Estados Unidos foi emboscado após subir ao platô acima da escarpa e tiveram de bater em retirada, deixando para trás centenas de mortos e feridos. Ignorando voluntariamente as ordens de retirada, Desmond Doss ficou para trás para prestar socorro aos colegas feridos. Arriscando a própria vida, tratou dos feridos em pleno campo de batalha e, com o auxílio de uma corda, baixou do penhasco dezenas de feridos. Naquele momento dramático, ele salvou a vida de seus colegas, sem levar em conta que eram os mesmos que o humilhavam e maltratavam. Sabe-se que ele medicou inclusive vários inimigos que se encontravam feridos. Durante a noite, no espaço de aproximadamente dez horas, não se sabe ao certo, mas avalia-se que Desmond salvou cerca de 75 homens. À medida que ia salvando a vida dos colegas, Desmond murmurava em tom audível apenas a si mesmo uma rogativa a Deus: “Ajude-me a ajudar mais um. Ajude-me a ajudar mais um”.
Desmond conquistou o respeito de todos. No dia seguinte, as tropas dos Estados Unidos receberam ordem de retomar a ofensiva. Então aconteceu algo inesperado, os mesmos companheiros que ridicularizavam e hostilizavam Desmond disseram aos comandantes que só retornariam ao combate se Desmond estivesse ao lado deles. Posteriormente, sem disparar nenhum tiro, foi considerado herói e recebeu a mais alta condecoração militar dos Estados Unidos, a Medalha de Honra do Congresso. Seu sargento de instrução, um dos feridos no platô da escarpa Maeda, declarou: “Fiz tudo que pude para expulsá-lo do exército. Graças a Deus não consegui, pois ele salvou minha vida!”
Desmond T. Doss, quando tinha apenas 18 anos, sofreu com bulling, mas aguentou firme superando todas as dificuldades. Ele foi uma pessoa comum, que acreditou em seus valores e fez aquilo que sua consciência orientava a fazer. Ele é um bom exemplo de que todos podemos superar os momentos difíceis. Talvez não façam um filme de sua vida ou sobre seus feitos e talvez você não receba uma condecoração honrosa, mas é certo que você pode se tornar o herói de sua própria vida, conquistar respeito das pessoas, da sociedade e viver uma vida feliz.
No primeiro capítulo do livro Um Futuro Brilhante nos Espera, o mestre Seicho Taniguchi narra um caso sobre o jovem Shunji Chikuhara, que residia nas imediações da Cidade de Osaka, Japão. Esse jovem sofria, desde pequeno, de dermatite atópica e sofreu maus-tratos na escola por causa da aparência de sua pele. Quem sofre esse tipo de perseguição talvez chegue a invejar a força de seus perseguidores, mas nem tudo é como parece ser, e o mestre Seicho Taniguchi faz uma observação interessante

e assertiva sobre esses “valentões”:
Quem assim maltrata o próximo não é, em absoluto, uma pessoa forte, mas sim fraca. Fere os outros para sentir um pouco de superioridade, e isso se parece com caranguejos dentro de um balde: tentam dele sair, puxando para baixo os outros.
(TANIGUCHI, Seicho. Um Futuro Brilhante nos Espera. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. p.18)
O jovem Shunji Chikuhara acabou recusando-se a frequentar a escola, passou a não acreditar nas pessoas e não queria mais sair de casa. Também no livro Um Futuro Brilhante nos Espera (p.19), o mestre Seicho Taniguchi diz que “por mais que alguém sofra fracassos ou perseguições, o caminho se abrirá, com certeza. Isso porque a Imagem Verdadeira do ser humano é originariamente de ‘filho de Deus’, que já herdou abundante amor divino”. Aconselhado pela mãe, o jovem Shunji foi participar de um seminário de treinamento espiritual, destinado a estudantes de ensino médio. Aqui no Brasil também temos várias academias da Seicho-No-Ie, para treinamento espiritual, nas quais são realizados seminários para jovens e juvenis, além de outras modalidades de seminários para as demais faixas etárias.
Na academia o jovem Shunji Chikuhara foi imediatamente reverenciado e Durante o seminário foi tratado com gentileza a ponto de se comover, e pode contar ao grupo sobre os problemas que vinha enfrentando, recebendo apoio dos demais. Durante o seminário ele recebeu orientação de um preletor que lhe ensinou: “Ore pela felicidade de todos que o maltratam. Ore, desenhando na mente o aspecto deles brincando com você”. Shunji Chikuhara seguiu a orientação do preletor. Voltou à escola e, próximo à época da formatura, o líder dos colegas que o maltratavam foi pedir-lhe desculpas, e pararam de maltratá-lo.
Procure se informar sobre os seminários para jovens e juvenis e, se possível, vá participar. De qualquer modo, se você sofre algum tipo de pressão ou maltrato por parte de seus colegas de escola, ore pela felicidade deles. Pode também dedicar a eles a leitura da Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, mesmo a distância, estando em sua casa. O mestre Seicho Taniguchi ensina:
Orar pelas pessoas é muito mais do que perdoar-lhes; é atingir um estado mental mais elevado. Sendo um ato de amor que transcende o fenômeno, a força infinita, que estava oculta, passará a jorrar. Assim, como todas as pessoas são originariamente filhas de Deus, manifestarão amor e bom-senso, perceberão os erros que cometeram até então e pedirão desculpas.
(TANIGUCHI, Seicho. Um Futuro Brilhante nos Espera. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. p.20)
O ensinamento da Seicho-No-Ie diz claramente que não existem pessoas más, pois todos são filhos de Deus. As pessoas que se apresentam como pessoas más, na verdade apenas não estão manifestando sua natureza verdadeira. Também as situações de conflitos e sofrimentos não são realidade, são apenas aspectos aparentes e, por não terem existência verdadeira, vão passar e deixarão de se manifestar. Em qualquer situação, mantenha a calma, a esperança e a fé em Deus.
Lembre-se:
Você pode se tornar o herói de sua própria vida, conquistar respeito das pessoas, da sociedade e viver uma vida feliz.
Por mais que alguém sofra fracassos ou perseguições, o caminho se abrirá, com certeza.
Ore pela felicidade de todos que o maltratam.
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